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Parto normal: é possível com bebê sentado e depois de duas cesáreas? Veja histórias

Apesar de a história de Adelir Carmem Lemos, de 29 anos, obrigada pela justiça a fazer uma cesariana no Rio Grande do Sul, ter acirrado a discussão sobre cesariana x parto normal, ativistas organizam para esta sexta uma mobilização em todo o Brasil para chamar atenção para questões como a autonomia da mulher para decidir a forma de nascimento e para a necessidade de investigação de casos de violência obstétrica cada vez mais comuns no Brasil

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Valéria Mendes - Saúde Plena Publicação:11/04/2014 09:00Atualização:18/05/2015 15:48
A história de Adelir Carmen Lemos de Góes, 29 anos, ganhou repercussão internacional. Por aqui, o debate acalorado - principalmente nas redes sociais - se concentrou na pergunta: era caso ou não de cesárea? A justificativa pode estar na posição que o Brasil ocupa: é o segundo país do mundo que mais pratica cesarianas, atrás apenas do Chile. Só esse dado explicita a urgência de discutir a forma como se nasce no Brasil e, como todos nascemos, trata-se de uma questão universal envolvida por sentimentos dos mais diversos. No entanto, a decisão da justiça do Rio Grande do Sul que obrigou Adelir a passar pela cirurgia para ter sua filha, levanta outros temas urgentes que sociedade precisa debater. Entre eles, a autonomia da mulher sobre o próprio corpo e a violência obstétrica. Por causa disso, nesta sexta-feira (11) grupos de ativistas relacionados à Saúde da Mulher e aos Direitos Sexuais e Reprodutivos Femininos, realizam ato nacional em apoio a Adelir (a programação completa pode ser vista aqui).

Adelir, a filha Yuja Kali e o marido Emerson Guimarães Lovari  (Reprodução Facebook)
Adelir, a filha Yuja Kali e o marido Emerson Guimarães Lovari
A cesariana de Adelir era mesmo necessária?
Médico obstetra do Hospital Sofia Feldman e do Hospital das Clínicas da UFMG, Lucas Barbosa considera que Adelir foi vítima de violência. “Tudo embasado em uma orientação científica errônea”, afirma. Os motivos pelos quais a médica que atendeu Adelir recomendava a cesariana de urgência eram: bebê pélvico (sentado), duas cesarianas anteriores e gravidez de 42 semanas e 2 dias, desmentido em resultado de exame divulgado pela própria Adelir (veja).

O Saúde Plena conversou com o especialista sobre as justificativas médicas que sustentaram a decisão judicial e conta a história de três mulheres que tiveram o parto via vaginal mesmo nas condições apresentadas por Adelir (clique e veja no final da matéria). “Parto com bebê sentado sempre existiu na humanidade. Temos estudos realizados em tribos indígenas relatando que as parteiras nunca tiveram medo do bebê em apresentação pélvica. O levantamento mostra também que essas mulheres não observavam taxa maior de complicação ou mortalidade dos bebês que nasciam nessa situação. Toda a polêmica em torno do bebê pélvico está baseada em um estudo canadense intitulado ‘Term Breech Trial’, publicado na revista Lancet no ano 2000. Esse estudo mostrou um risco maior do parto via vaginal em relação à cesariana. Só que os próprios canadenses criticaram falhas no desenvolvimento da pesquisa. Eles foram vendo tantos erros na metodologia do estudo que interferiram nos resultados finais. Um exemplo é que, no caso de bebê pélvico, a posição de cócoras é mais recomendada só que as mulheres acompanhadas estavam deitadas de barriga para cima, ou seja, uma posição deletéria para o parto pélvico”, explica.

Para ele, os médicos brasileiros não têm experiência em assistir parto pélvico. “Existe todo um temor pela posição pélvica e o medo na cabeça das pessoas faz todo mundo achar que o a via de parto deve ser cesariana. Para esses casos, adoto a postura canadense: após certificar que o bebê está sentado, entre 34 e 36 semanas, tentamos a manobra versão cefálica externa, que significa rodar o bebê e colocá-lo de cabeça para baixo. O procedimento é guiado por ultrassom, é realizado dentro do hospital e a mulher toma uma medicação para relaxar o útero”. Segundo ele, é um procedimento seguro. “Se a gente não consegue rodar o bebê com a manobra, converso com a paciente e, se for a opção dela, tentamos o parto via vaginal.

Adelir Carmen Lemos de Góes, 29 anos (Reprodução Facebook)
Adelir Carmen Lemos de Góes, 29 anos
Lucas Barbosa diz que, no parto pélvico, a postura do médico é mais observacional. “Não colocamos a mão no bebê para não assustá-lo. “Se a gente percebe que, durante a saída, o bebê está tendo alguma dificuldade, existem vários tipos de manobras que podem ser realizadas para facilitar essa soltura”, explica.

Lá fora, segundo Lucas, parto via vaginal com bebê sentado é uma rotina. “Aqui no Brasil, o bebê não rodou, marca-se a cesariana e faz”, reforça. Outro fator que influencia a falta de experiência dos obstetras brasileiros com o parto pélvico é que a incidência é pequena: varia entre 3 a 5%. “Um médico, mesmo em uma maternidade grande e de muito movimento, tem chance mínima de assistir um parto pélvico”, afirma o especialista. Lucas, que é obstetra do Hospital Sofia Feldman, a maior maternidade do Brasil com 900 partos por mês, conta que, por lá, tem parto pélvico o tempo todo. “Nascem uns quinze por mês. Os médicos mais velhos de casa têm grande experiência e não têm temor”, relata.

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“Nós, médicos que praticamos uma obstetrícia mais parecida com a europeia, somos taxados como loucos. Mas lá fora não tem esse alvoroço todo por causa de um bebê sentado”, compara o obstetra. Outro exemplo que explicita a disparidade do  protocolo de atendimento no Brasil em relação a outros países se refere ao cordão enrolado no pescoço. “40% dos bebês nascem com circular de cordão. Em lugar nenhum do mundo isso é indicação de cesariana e aqui é uma das indicações mais freqüentes”, afirma.

Sobre a indicação de cesariana depois que a mulher já passou por outras anteriormente, Lucas Barbosa explica que o risco de rotura uterina é de, no máximo, 2%. “É um risco pequeno que não impede gestante nenhuma de tentar o parto via vaginal. A única exigência é que seja intra-hospitalar por que, se uma mulher tiver uma rotura uterina em casa, é 100% de chance de óbito neonatal e a mãe corre risco de morrer em função da hemorragia”, alerta.

Por tudo isso, para ele, não existe motivo para taxar Adelir de louca, irresponsável, uma mulher que ‘podia ter matado o bebê’. “A juíza teve uma orientação médica incorreta. No Brasil vivemos a realidade de a mulher ter que brigar para ter parto normal. O parto é um acontecimento da mulher, não é um procedimento médico ou do hospital. Tem que respeitar o desejo dela. Evidências científicas mostram que a sensação de segurança é muito importante para a mulher em trabalho de parto. Qualquer mamífero, em situação de estresse, libera hormônios que são deletérios para a contração uterina. Por isso é importante o silêncio, pouca luz, mais introspecção. Violência obstétrica é isso: desrespeitar a mulher durante um momento crucial da vida dela que é o trabalho de parto”, avalia.

Para ele, a situação vivida por Adelir serve para escancarar que chegamos a um patamar inaceitável de cesarianas. “Tanto para a saúde da mãe, quanto para a saúde do bebê, a literatura científica corrobora que a cesariana é um procedimento mais arriscado”, frisa. Lucas Barbosa, lembra, entretanto, que não é o caso de condenar o procedimento e reforça: “a cesariana é a cirurgia que mais salvou vidas na humanidade, desde que com indicações muitos precisas”.

Por telefone, Emerson Guimarães Lovari, pai de Yuja Kali, afirmou que nem ele e nem Adelir vão participar do Ato Nacional Contra a Violência Obstétrica. “Não vamos sair de casa, estamos com receio de sair na rua. Esperamos que o que aconteceu com a gente sirva para que mudanças aconteçam. Esperamos que ninguém passe pelo que nós passamos”, afirmou.

Manifestação em BH
Pollyana do Amaral Ferreira, é administradora de rede, doula, mãe de duas meninas, grávida de um terceiro e uma das organizadoras da manifestação em Belo Horizonte. Para ela, a discussão sobre a via de parto é secundária. “O objetivo é chamar a atenção sobre o desrespeito da autonomia da mulher na gestação e no parto. Ficou constatado que a violência obstétrica chegou à esfera judicial. Adelir foi impedida de exercer o direito de escolher como sua filha viria ao mundo, foi negado a ela o direito ao acompanhante. Retiraram dela o direito de escolher onde aconteceria o nascimento - quando os policiais chegaram para executar o mandado, ela manifestou a vontade de ir para outra maternidade. Antes, a coação era feita de forma velada, mas agora, ficou constatado como a mulher é vista na sociedade, tudo foi evidenciado. Nenhuma hora é mais a hora da mulher do que o momento de ter o filho. Essa decisão ameaça o direito de todas as outras mulheres”, afirma.

O caso recebe atenção das esferas públicas. O deputado federal Jean Wyllys acatou a denúncia de violação aos direitos humanos e violência obstétrica no caso de Adelir feita pela Artemis (Aceleradora Social pela Autonomia Feminina) e convocou audiência pública para discussão do tema (veja o documento na íntegra).


Em Belo Horizonte, o ato será dividido em dois momentos. A partir das 14h haverá uma concentração em frente ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais (Av. Álvares Cabral, 1690 - Lourdes) e depois das 17h, os manifestantes seguirão para a Praça da Assembleia Legislativa onde farão panfletagem e ações de conscientização.  (Divulgação)
Em Belo Horizonte, o ato será dividido em dois momentos. A partir das 14h haverá uma concentração em frente ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais (Av. Álvares Cabral, 1690 - Lourdes) e depois das 17h, os manifestantes seguirão para a Praça da Assembleia Legislativa onde farão panfletagem e ações de conscientização.


Parto natural com bebê pélvico
Elis Fernanda Gonçalves Ferreira, 30 anos, é atriz e arteeducadora e mãe de Bella, 6 meses

'Quem é a corajosa?', a atriz Elis Fernanda Gonçalves Ferreira, 30 anos, lembra de ouviu o médico perguntar  (Arquivo Pessoal)
'Quem é a corajosa?', a atriz Elis Fernanda Gonçalves Ferreira, 30 anos, lembra de ouviu o médico perguntar
“A Bella veio de uma gravidez planejada e minha opção sempre foi a do parto normal. Moro em São João del Rei, e, na consulta de pré-natal do quinto mês, comecei a conversar sobre parto com o meu médico. Descobri que, mesmo no parto via vaginal, ele era muito intervencionista e defendia a episiotomia (corte do períneo), anestesia e disse que, com frequência, usava fórceps. ‘Não quero isso’, pensei. Comprei então um licro sobre parto ativo e comecei a cogitar a hipótese do parto domiciliar.

Aqui na minha cidade, duas mulheres já tinha tido seus bebês em casa e, eu e meu marido, trocamos experiências com os dois casais. Meu receio com o parto domiciliar passou e achei seguro não avisar meu médico da minha intenção. Só quem sabia éramos eu, o pai da Bella e minha mãe, nem para minhas irmãs eu contei. E segui com o pré-natal inteiro o médico dizendo que seria possível o parto via vaginal. Com 37 semanas, descobrimos que minha filha estava sentada, com peso estimado de 4,100 quilos. Meu médico já queria marcar a cesariana para a semana seguinte, mas aceitou, depois que eu pedi, esperar que eu entrasse em trabalho de parto. Como o parto domiciliar não é recomendado em situações de bebê pélvico, fui para Belo Horizonte visitar o Hospital Sofia Feldman. Com 38 semanas, retornamos a BH e tentamos a manobra de versão cefálica (para colocar a criança na posição correta), mas a Bella não virou e o médico achou arriscado forçar mais. Eu e meu marido retornamos para casa. Era uma quinta-feira, mas no sábado já estávamos de volta à capital e tivemos o apoio financeiro da família para permanecer na cidade até o nascimento. Nessa fase, já tinha abandonado o médico do pré-natal e fiquei tentando os exercícios para fazer o bebê virar. Ela não virou e foi quando eu desisti que ela virasse: ‘Ela queria vir assim, e dois dias depois, ela veio’.

Mesmo no Sofia Feldman, sabia que não eram todos os médicos que topavam o parto pélvico e eu tinha uma lista daqueles que aceitavam. Quando dei entrada no hospital, às 0h30, o plantonista me sugeriu a cesariana, mas como queríamos o parto natural, achei melhor esperar a troca de plantão – que aconteceria às 7h – porque o médico que chegaria era um dos que topava o parto via vaginal com bebê sentado. Depois que fui internada, as cólicas foram aumentando e fui acompanhada a noite toda pelas enfermeiras de plantão que me tratavam com muito carinho.

O tempo todo elas escutavam o coração da minha filha, mediam a dilatação e diziam que o trabalho de parto estava evoluindo bem. Mesmo assim, me deixaram preparada psicologicamente para a necessidade de uma cesariana, mas eram sempre esperançosas. Após a troca de plantão, às 7h, o médico que fez meu parto chegou e brincou: ‘deixa eu ver quem é a corajosa’. Fiquei na banheira a maior parte do tempo, mas quando comecei a sentir as ‘contrações de puxo’, pediram para eu sair pelo fato de o bebê estar pélvico e ser necessário fazer uma manobra para ajudar.

Meu parto foi assistido por muita gente. Próximo ao nascimento da Bella, a equipe da cesariana chegou e organizou os procedimentos para o caso de ser necessário a cirurgia, mas depois que eu deixei a banheira, não demorou muito e minha filha nasceu.

O período expulsivo foi curto, saiu o corpo inteiro e só depois a cabeça. A equipe toda vibrou. Eu não me esqueço dessa imagem tão bonita um pouco antes da Bella nascer: tinham umas 15 pessoas na sala e estava todo mundo parado, sem fazer absolutamente nada, esperando a hora que ela ia chegar, a hora do meu corpo, a hora que ela decidisse sair. Até para escutar o coração da Bella na banheira, a enfermeira colocava uma luvinha no aparelho para ouvir dentro da água e não ter que mudar de posição. Não te anestesia, não teve ocitocina, não teve episiotomia (corte do períneo). Foi tudo natural.

A Bella nasceu com 4,115 quilos e 52cm. O medo sempre passa na cabeça e passou tanto na minha quanto na do meu marido. Sérá que vai dar certo? Só que a gente não externava um para o outro, conversamos sobre o medo depois. A gente ficava bravo quando algum familiar falava que tudo caminhava para cesárea, mas descobrimos a nossa força para topar esse parto natural pélvico. ‘00% de certeza a gente não tem, mas alguma coisa dentro da gente traz a coragem. Acho que me ajudou muito não falar sobre o medo.

Eu acreditava no meu corpo e acreditar que o parto normal é a natureza agindo de forma normal. Durante todo o trabalho de parto eu não senti medo. Eu tive uma laceração e precisou dar pontos.

Minha cidade é pequena, e todo mundo sabia o que tinha acontecido. Eu ouvia das pessoas: ‘Tadinha, deve ter sofrido muito’. Só que eu não sofri. O que eu considero que dói mais são as contrações, a saída da Bella foi um momento de alívio. Por que ela estava sentada eu sofri mais? Não, ela saiu quase que de uma vez".

Duas cesarianas e um parto normal
Tatiane Maria da Costa Lopes, fonoaudióloga, 30 anos, é mãe de Heitor, 4 anos, Filipe, 2, e Elisa, 3 meses

'Dá até vontade de ter outro para viver a experiência novamente', diz Tatiane após o nascimento de Eisa, 3 meses, de parto natural  (Arquivo Pessoal)
'Dá até vontade de ter outro para viver a experiência novamente', diz Tatiane após o nascimento de Eisa, 3 meses, de parto natural
“Imagino que a minha primeira cesariana foi desnecessária. Na ansiedade do primeiro filho, fui internada com 2cm de dilatação. As contrações ainda não estavam ritmadas, eu achava que estava em trabalho de parto, mas não estava. No hospital, aplicaram ocitocina (hormônio sintético usado para acelerar o trabalho de parto). Essa substância gera uma dor bem maior do que a das contrações naturais porque faz o útero contrair ainda mais. A primeira intervenção foi o descolamento da bolsa, uma intervenção vai gerando outras intervenções. Eu passei todo o trabalho de parto deitada, sem poder me movimentar. Horas depois, não tinha dilatado nada. No desespero de tamanha dor que eu sentia, a médica sugeriu a cesariana. Ela me disse que eu poderia sofrer muito esperando pela dilatação e cair na cesárea do mesmo jeito. Até então, eu achava que foi necessária, que eu tentei, mas a dilatação não aconteceu. Só que a gestação não tinha completado nem 39 semanas. Eu nem culpo a médica, nunca tinha me informado e fui na ingenuidade.

Eu engravidei muito rápido após a gestação do Heitor. Eu quis tentar logo achando que ia demorar. Quando ele estava com oito para nove meses, veio a notícia. Eu tinha a mentalidade de que uma vez cesárea, sempre cesárea. E assim foi o Filipe. Foi praticamente marcado, eu achava que não podia entrar em trabalho de parto e que poderia acontecer alguma coisa comigo ou com ele, que podia romper o útero... Não sabia que podia ser parto normal.

Na gestação da Elisa, já tinham se passado mais de dois anos da segunda gravidez. Ela também foi planejada. Soube da experiência de uma amiga minha que, após duas cesarianas, teve o terceiro filho de parto normal. Eu tinha um desejo muito grande de viver a experiência do parto normal. Quando cheguei a 15 semanas de gravidez, comecei a pesquisar. Perguntei para minha médica sobre a possibilidade e ela me disse que nenhum hospital permitiria, só que eu sabia que era possível. Então, contatei uma doula por e-mail que me passou o contato de uma enfermeira obstétrica. Nesse momento, eu já sabia que era isso que eu queria e corri atrás de pessoas que me apoiavam. Com 36 semanas, tive um alarme falso de trabalho de parto e sabia que, dessa vez, tinha que ir para o hospital no momento certo, já em trabalho de parto avançado. Cogitei parto domiciliar, mas os profissionais que me acompanhavam acharam mais prudente ir para o hospital.

Com 40 semanas e dois dias, à noite, as contrações começaram a ritmar e ficarem mais fortes. Liguei para a enfermeira obstétrica. Ele me examinou e viu que já estava em trabalho de parto ativo, de 5cm para 6cm de dilatação. Fui para o hospital já amanhecendo. Em torno das 8h fui para a banheira, é um anestésico natural, praticamente não sentia mais dor. Às 10h06min, a Elisa nasceu, de forma completamente natural, sem anestesia, sem nenhuma intervenção.

Meu marido me apoiou sempre. Pessoas de fora, sem informação, me achavam um ET. Mas era algo que eu desejava muito. A dor do parto natural nem se compara à dor das minhas duas cesarianas. Foi muito tranquilo.

Eu fiquei mais de uma semana parecendo que estava flutuando. A recuperação é muito mais tranquila. Tive apenas uma laceração bem superficial e levei alguns pontos externos. Minha filha nasceu dentro da bolsa e não fiquei longe dela nenhum momento após o nascimento. Dá até vontade de ter outro para viver a experiência novamente”.

Três cesarianas e um parto normal
Petrina Nogueira, 40 anos, professora, mãe de Pedro, 22 anos, Maria Carolina que faleceu, Isabel, 17, Lívia, de 5, e Miguel, 3

A história de Petrina, que após três cesarianas, teve Miguel de parto natural, inspirou mulheres brasileiras que também tiveram sucesso em suas tentativas  (Arquivo Pessoal)
A história de Petrina, que após três cesarianas, teve Miguel de parto natural, inspirou mulheres brasileiras que também tiveram sucesso em suas tentativas
“Meu primeiro filho nasceu de parto normal. Na gravidez de Maria Carolina, tive um descolamento total de placenta, passei por uma cesariana, e minha filha faleceu um mês depois. Aqui no Brasil, infelizmente, pelo fato de eu já ter tido uma cesariana, obrigatoriamente tive mais duas. Com a Lívia já queria tentar o parto normal, mas não me deixaram. Quando veio a notícia da gestação do Miguel, estava decidida que seria via vaginal. Eu não era doente, estava saudável, nas minhas perfeitas condições mentais, por que não podia? Apesar de o protocolo brasileiro dizer que não pode, existem vários protocolos hospitalares ao redor do mundo mostrando o contrário. Eu estudei muito, em sites internacionais, e me fortaleci. Estava tão decidida que me dispus a mentir. Apesar de ter convênios hospitalares particulares, fui para a rede pública para não me ver obrigada a viver a quarta cesariana. Contratei uma enfermeira obstétrica e uma doula. No último mês, sequer tive médico de pré-natal, estava convicta de ficar em casa até o momento de o bebê querer nascer. Miguel nasceu com 4 quilos, naturalmente, sem nenhuma intervenção, no Hospital Sofia Feldman.

Tive total apoio do meu marido, mas meu filho mais velho tinha muito medo de eu morrer. Foi tenso, a família não apoia, a pressão é grande. Aqui no Brasil, depois de três cesarianas, faz-se ligadura de trompas. Como, então, os médicos vão saber o que acontece depois de três cesáreas? Me apoiei na medicina baseada em evidências científicas que mostrava que a chance do útero se romper é menor que 2%. Sou matemática, eu tinha 98% de chance de sucesso e matematicamente isso significa sucesso. Os protocolos hospitalares brasileiros fazem muito terror em cima disso.

Eu fiz um vídeo – que está publicado no Youtube – em que relato minha experiência e me deixa feliz saber que, após a minha história, temos outras mulheres no Brasil que também conseguiram”.

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