SAÚDE EM REDE

Entrevista: Atriz Maria Paula destaca redução das mortes infantis no país

Ela conta sua experiência com filhos e revela porque defende a causa do aleitamento materno há 11 anos


Camila de Magalhães -

Publicação: 28/05/2015 16:50 | Atualização: 28/05/2015 17:19

Desde 2004, quando nasceu a primeira filha, a psicóloga Maria Paula Fidalgo aposta na causa do aleitamento materno. Ela aproveitou a visibilidade como atriz, comediante e apresentadora de televisão para defender um assunto para o qual o Brasil precisava se atentar. A realidade brasileira, até então, era de muitas mortes de bebês por falta de leite materno. Com a chegada do segundo filho, Maria Paula passou a lutar também pela doação de leite e se tornou embaixadora da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano.

No mês em que se celebra o Dia Mundial de Doação de Leite Humano (19 de maio), Maria Paula, que também é cronista do Correio Braziliense, concedeu entrevista à Fundação Assis Chateaubriand para falar sobre o que a move nessa causa e como vê o resultado de seu trabalho em tantas campanhas de conscientização refletido na redução da mortalidade infantil no Brasil, um dos primeiros objetivos de desenvolvimento do milênio alcançados no país. Confira.

Maria Paula: 'Me sinto honrada de fazer parte desse trabalho social. Estou sempre envolvida com pessoas de altíssimo nível intelectual e emocional.' (Foto: Zuleika Souza/CB/D.A Press)
Maria Paula: 'Me sinto honrada de fazer parte desse trabalho social. Estou sempre envolvida com pessoas de altíssimo nível intelectual e emocional.' (Foto: Zuleika Souza/CB/D.A Press)
 

Por que você considera importante defender essa causa?

Em 2004, quando tive a primeira filha, o Ministério da Saúde (MS) me convidou para protagonizar, junto com ela, a campanha de aleitamento materno exclusivo. Comecei a ser abordada na rua por mulheres que estavam amamentando. Na época, o MS recomendava 6 meses de aleitamento exclusivo, mas o Ministério do Trabalho só permitia uma licença maternidade de 4 meses. Foi aí que começou a campanha pelo aumento da licença para 6 meses. Viajei o país falando não só da importância nutricional e imunológica, mas o vínculo afetivo da amamentação. Quando se cria esse vinculo, evita-se não só doenças físicas, mas muitos problemas emocionais, criando cidadãos mais felizes, harmônicos e responsáveis.

Meu discurso convenceu a nível municipal, estadual e federal. Tivemos uma conquista muito expressiva. Me animei com os resultados e achei que poderia dar contribuição. Quando a Maria Luiza fez 2 anos, eu ainda estava amamentando e fiz a campanha de aleitamento complementar. Comecei a me envolver ainda mais nessas causas e a resposta do público era enorme, muito expressiva, informativa.

Depois me convidaram para ser embaixadora do banco de leite. Fiz trabalhos diplomáticos, recebi a princesa da Dinamarca, mostrei bancos de leite, expliquei como era pausterização e a distribuição para UTIs neonatais. Com três anos de antecedência, conseguimos reduzir a mortalidade infantil no Brasil. A princesa ficou mobilizada e entrou junto. Já tínhamos o Dia Nacional da Doação de Leite Humano e lutamos para que a data fosse internacional. A Inglaterra aderiu, todos os países do Mercosul, os países iberoamericanos. Queremos fazer com que o mundo todo pare para falar sobre o assunto.

É um trabalho contínuo. Uma coisa que independe de quem esteja no poder, é um trabalho maior. É uma parceria com quem for que estiver no poder. Um trabalho muito bonito, um grupo de pessoas que dão apoio à causa, inclusive na coleta de leite para que possa chegar aos bebês prematuros nas UTI neonatais.

Você também fez um trabalho em penitenciárias femininas e na mobilização de empresas pelo aumento da licença maternidade. Como foi?

Ano passado, elegi como objetivo principal o trabalho em penitenciárias femininas. Fiz várias palestras para mães grávidas ou com bebês. Falava da importância do aleitamento materno, do vínculo afetivo e propunha que as penitenciárias tivessem salas de amamentação.

Junto com a Sociedade Brasileira de Pediatria, fiz um vídeo para empresas. Aquelas que concordam com a licença maternidade de seis meses recebem um benefício fiscal. Eu não queria colocar apenas essa questão financeira, mas a humana mesmo. E tivemos a adesão de várias empresas. Depois, partimos para a criação de salas de amamentação. Em Brasília, o case de um maternário no serviço público. As mães deixam os bebês, amamentam e voltam a trabalhar. É a situação ideal para que mulher possa voltar ao mercado. É uma atitude que nem todas as empresas estão dispostas a bancar.

Como foi a sua experiência com aleitamento materno?

 (Ministério da Saúde)
Minha experiência foi muito difícil. Por isso, me engajei tanto. É um esforço que a mulher tem que fazer. O primeiro mês é barra pesada, o peito racha. Nessa situação, percebi o quanto é importante ter um grupo de apoio, amigas do peito do banco de leite iam na minha casa para ajudar. No começo, era o bebê mamando e as minhas lágrimas escorrendo. Não é brincadeira, a mulher tem que querer. É uma dificuldade inicial. Eu tinha leite demais e empedrava. Comecei a coletar para doação, pois acho um absurdo desperdiçar essa preciosidade.

Passei a curtir esse sonho, o momento de silêncio tranquilidade, você olhando nos olhos do bebê, o contato da pele. Só faltava eu lamber as crias. Aproveitei muito o contato físico com os dois. É um contato tão prazeroso e faz bem a longo prazo. Quando se está amamentando, o útero vai contraindo e a probabilidade de câncer de mama diminui. São inúmeros os benefícios.
Hoje meus filhos comem de tudo, são super saudáveis, não têm intolerância alimentar, são crianças seguras e com autoestima boa. Fico muito feliz com isso.

Como se sente em ver os resultados?

Me sinto honrada de fazer parte desse trabalho social. É um prazer estar ali, aprendo muito. Estou sempre envolvida com pessoas de altíssimo nível intelectual e emocional. Pessoas que usam sua capacidade e títulos científicos a favor do coletivo. Esse tipo de conquista só se dá se todo mundo se juntar. Não adianta fazer tudo se não divulgar, se não chegar nos jornais, às rádios e à internet. É assim que a gente consegue grandes conquistas.

 

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