ENTREVISTA

Técnico do Futuro Campeão conta sua trajetória no atletismo

Em entrevista, João Sena fala sobre o programa que forma atletas de rendimento e suas expectativas para este ano olímpico e paralímpico


Publicação: 29/02/2016 19:01 | Atualização: 02/03/2016 16:07

Treinamento em família: João Sena, Gianetti Sena e Caio Bonfim (Acervo pessoal João Sena)
Treinamento em família: João Sena, Gianetti Sena e Caio Bonfim


Carolina Lobo


João Evangelista de Sena Bonfim, o João Sena, é um técnico de atletismo reconhecido no Distrito Federal. Há 36 anos nessa carreira, ele faz parte da trajetória de sucesso de alguns atletas, como a ex-corredora de longa distância Carmem de Oliveira, desde 1995 recordista sul-americana de maratona e primeira brasileira a vencer a São Silvestre.

Outro de seus alunos de destaque é o filho, o marchador Caio Bonfim, medalhista de bronze dos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015. João Sena e sua esposa, a ex-atleta da marcha atlética Gianetti Sena, vencedora de oito campeonatos brasileiros consecutivos, são os treinadores do rapaz.

Desde 2013, Sena é técnico do Futuro Campeão no Centro Olímpico e Paralímpico (COP) de Sobradinho, programa que identifica talentos e forma atletas que possam representar o Distrito Federal em competições nacionais e internacionais. A ação conta com treinamentos de rendimento no qual são trabalhados valores como disciplina, responsabilidade, pontualidade e controle emocional.

Confira a entrevista abaixo:

O senhor é um técnico reconhecido no atletismo. Conte um pouco sobre sua trajetória nessa modalidade esportiva.
Comecei a gostar de atletismo quando servi o Exército. Dois anos depois entrei na faculdade de educação física e, na ocasião, fui atleta da faculdade, mas assim que terminou o curso, acabou também minha carreira. Nem me considero um ex-atleta. Eu estava terminando a faculdade e me pediam treinamento e eu já orientava. Em 1980 eu entrei na Secretaria de Educação e naquele ano montei uma equipe para mim. São 36 anos de carreira e em Sobradinho. Em 1983 a Secretaria criou o projeto chamado CID, Centro de Iniciação Desportiva, e eu tive o prazer de ser o primeiro professor de atletismo de Sobradinho.

Sobradinho é considerado um dos maiores celeiros do atletismo no Brasil. Qual é o seu papel e influência na revelação de diversos campeões e atletas olímpicos?
Sobradinho tem uma tradição fortíssima no atletismo. A região administrativa formou quatro atletas olímpicos – Carmem de Oliveira, Solange Cordeiro, Hudson de Souza e Caio Bonfim, todos meus alunos –, nove campeões sul-americanos e 26 brasileiros, sendo sete do Futuro Campeão. Sempre foquei no alto rendimento para levar um atleta para a Olimpíada. Meus treinos sempre foram mais puxados, com dois treinos por dia. E assim o sucesso veio. Eu tive a sorte de ter três campeãs sul-americanas: Carmem, Solange e Gianetti.

Como é o auxílio dado ao seu filho Caio Bonfim? O treinamento em família, a cobrança e a torcida?
Sou treinador do Caio juntamente com a mãe dele. Sou o preparador físico e treinador técnico e ela faz mais a parte técnica. Desde que eram pequenos, meus dois filhos praticavam esporte, porque eu não os queria sedentários. Ainda criança, Caio já estava em duas escolinhas de futebol e marchando, porque via a mãe marchar. Agora essa questão de ele sair atleta, isso aí é um dom de Deus. Eu ganhei de presente na minha casa. Ele puxou muito para o lado da mãe: é esforçado e caxias no treinamento. E conseguimos fazer um bom trabalho, pois nós três pensamos além do alto rendimento, somos muito competitivos e estamos sempre fazendo esforço para melhorar. Tenho admiração pelo Caio, porque ele largou tudo para ser atleta. O atleta hoje renuncia a muitas coisas, inclusive a um bom emprego, para praticar um esporte olímpico. Ano passado ele conquistou medalha de bronze em Toronto, no Pan-Americano. E vai às Olimpíadas em duas provas: 20km e 50km. Ele tem 25 anos e já tem uma Olimpíada como experiência – participou da de Londres, em 2012.

Quais são suas expectativas para o atletismo neste ano olímpico e paralímpico no Brasil?
Em 2015 obtivemos 27 medalhas em campeonatos brasileiros. E temos uma turma nova de velocidade, saltos, arremessos e lançamentos que vai dar o que falar daqui dois, três anos. O Caio é um atleta olímpico, de referência. Como parte do preparo para os Jogos Olímpicos, esticamos mais os treinos, sendo ainda mais puxados, e a diversão foi menor nas últimas férias.
Neste início de ano um atleta argentino, o Juan Manuel Cano, sexto da América do Sul da marcha atlética, veio treinar com o Caio e ficou um mês sob minha responsabilidade. Achei interessante, sinal de que alguém reconheceu nosso trabalho e veio treinar com a gente para buscar o mesmo rendimento. Ou seja, estamos exportando nosso know how. A expectativa é de que nas Olimpíadas de 2020 tenhamos pelo menos mais uns dois ou três atletas, além do Caio.

Em relação ao programa Futuro Campeão, qual é a importância dele no dia a dia dos atletas? O senhor avalia o programa como eficiente?
Atualmente temos 100 atletas do Paranoá – treinam no COP de Sobradinho – e mais 100 em Sobradinho. Vai ser um desafio selecionar os 35 campeões para o programa. Com o projeto funcionando com vale-transporte e lanche, como previsto, acho que vai ser 100%. Eles vão melhorar mais e mais. Nós temos expectativa de que vamos fazer um sucesso arrasador em 2016.
Temos coragem de querer levar em frente o atletismo, esse esporte de alta competitividade, de alto rendimento. Não gostamos de ouvir: faz esporte só para inclusão social. Inclusão social não traz medalha. Nós trazemos a medalha e através dessa conquista o menino tem inclusão social. Esse negócio de ficar com peninha e dar um tênis só porque o menino é carente, não. Ele vai ter que batalhar para ganhar a medalha. Isso que é o esporte de alto rendimento. Inclusão social é outra coisa. Vamos fazer campeão. E não existe campeão sem controle emocional e nem mau caráter. Em 36 anos de trabalho eu não conheço nenhum. Todo campeão é disciplinado, não gosta de mentira, falsidade. Mesmo que o menino chegue sem maturidade, ele acaba adquirindo. Nós vamos reeducar para ele ser um atleta, com caráter, responsabilidade, comprometimento.

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