RIO 2016

O legado de uma Olimpíada no Brasil na visão de esportistas do DF

Talentos de Brasília, a medalhista olímpica Leila Barros, o recordista brasileiro na marcha atlética Caio Bonfim e seu treinador, João Sena, falam sobre a experiência no maior evento esportivo do mundo e deixam recado para as novas gerações


Camila de Magalhães -

Publicação: 01/09/2016 18:00 | Atualização: 01/09/2016 19:18

Realização de jogos em Brasília foi um sucesso e credencia ainda mais a cidade para grandes eventos, avalia Leila Barros (Foto: Camila de Magalhães)
Realização de jogos em Brasília foi um sucesso e credencia ainda mais a cidade para grandes eventos, avalia Leila Barros (Foto: Camila de Magalhães)
 

Participar do maior evento esportivo do mundo no país em que nasceu é motivo de orgulho para quem competiu e acompanhou de perto as competições a Olimpíada do Rio 2016. Um dos atletas que ganharam os holofotes pelo bom desempenho, mesmo sem conseguir medalha, foi o marchador brasiliense Caio Bonfim. Ele ficou a 5 segundos da medalha de bronze e acabou a prova de 20km da marcha atlética em quarto lugar, batendo o recorde brasileiro que já durava 21 anos sem ser superado.

Caio é treinado pelo pai e pela mãe, Gianetti Oliveira de Sena Bonfim, oito vezes campeã brasileira de marcha atlética. O pai, João Sena, integra a equipe da Fundação Assis Chateaubriand no Centro Olímpico e Paralímpico de Sobradinho, onde é técnico e coordenador do programa Futuro Campeão de atletismo. Sena também é treinador e dirigente do Centro de Atletismo de Sobradinho (Caso).

 (Arquivo pessoal João Sena)
  Para Caio Bonfim, estar nos Jogos Olímpicos do Rio foi uma experiência única. “Quando participei em Londres, era muito novo, mas foi super importante estar lá para fazer uma boa Olimpíada aqui”, reconhece. Caio diz que competir uma Olimpíada em casa é uma grande honra. “Qualquer atleta quer estar em uma Olimpíada e você participar da geração que tem uma Olimípada em casa é fantástico. Durante as provas, foi legal ter o povo brasileiro. Me senti em casa mesmo, parecia que estava marchando no quintal de casa. Tenho certeza que os bons resultados tiveram uma influência de estar no Brasil também”, observa o atleta.

Caio conta que ele e a equipe técnica acreditavam na chance de brigar por medalha, mas pondera: “Os Jogos Olímpicos são algo muito difícil, onde estão os melhores de todos os tempos de cada país. Tive que ser o melhor do Brasil de todos os tempos para poder brigar com esses caras. Tanto que quebrei o recorde brasileiro, que estava aí há 21 anos.”

Aprendizado importante

O novo recordista da marcha atlética reconhece, no entanto, que uma Olimpíada não é só feita de pódio e ressalta que encarou a quarta colocação como um aprendizado importante. “Claro que a medalha é o melhor lugar para estar. Esse quarto lugar é até difícil de digerir, porque você foi o primeiro a não ganhar medalha. Mas não posso deixar de valorizar o que eu fiz. Claro que me dediquei para a medalha, mas alguém tinha que ser o quarto lugar. Fui eu e não perco o sabor doce desse momento. É uma prova que não é popular no país, ninguém veio abrir as portas para mim, eu estou abrindo tudo no meio internacional. Estar como o quarto melhor do mundo numa Olimpíada é um grande momento para mim.”

A mensagem que Caio Bonfim deixa para os jovens que curtem esporte é de que é possível chegar lá. Basta querer. “Sempre gostei de ser motivo de orgulho para as pessoas. Se eu saí de Sobradinho e posso ser o quarto do mundo, todo mundo pode. A gente só precisa da oportunidade. Eu tive a oportunidade porque meus pais acreditaram. Espero que a gente possa disponibilizar mais oportunidades para a garotada, para os jovens, porque eles vão conseguir. Independentemente de escolher se vai ser atleta ou não, se escolher com muita determinação, disciplina e foco, tem tudo para chegar. Somos uma população muito rica. A gente tem tudo para ser um sucesso. Acreditar é o primeiro passo. Ter autoestima, saber que eu posso e vou conseguir. Não teve um dia que saí na rua que não fui xingado, mas eu acreditava no que eu era e não no que diziam para mim.”

Sob pressão e calor humano

 (Arquivo pessoal João Sena)
  Para o pai e treinador de Caio, estar numa Olimpíada pela terceira vez e sentir o calor dos brasileiros foi mais especial. João Sena acompanhou Carmem de Oliveira em 1992 e esteve com Caio também em 2012. “Nas duas primeiras vezes, não pude ficar hospedado com os atletas, fiquei distante. Desta vez, fiquei como treinador oficial na Vila Olímpica. O pessoal viu que estávamos inspirados. Caio foi muito bem, fez excelentes treinos. A gente sabia que para ele ganhar medalha, tinha que bater o recorde brasileiro, que era de 1h19min56s, que ele tinha que estar sempre à frente da marcha. Cumpriu tudo à risca e ainda bateu o recorde brasileiro em 19s, mas não deu a medalha. A gente faz o nosso planejamento, mas nunca deve esquecer o lado do adversário. Montamos uma estratégia de que, quando o chinês saísse, o Caio sairia também. Deu certo até certo ponto, depois não aguentou aquele ritmo da última volta. Bateu todos os recordes possíveis, mas não deu”, avalia Sena, que se surpreendeu com a nona colocação de Caio Bonfim na prova de 50km, que não era sua especialidade, mas foi onde quebrou outro recorde brasileiro.

Estar no Brasil tem duas variáveis importantes, na opinião de Sena. “Uma é que não é nada fácil. Caio era cotado para ser medalha e notamos que tinha mais gente cuidando dele do que antigamente. È gratificante e importante, mas é pressão. O que passei para o Caio foi que aproveitasse o momento e fizesse o seu melhor. Dessa forma, ninguém pode dizer que falhou. O outro lado é que, por ser no Brasil, fomos tratados da melhor forma. Caio agora já é um ser humano conhecido. Eu como treinador, passo a ter a noção de que o nosso treinamento foi todo certinho e falta pouca coisa para ganhar medalha.”

Tapa de luva nos pessimistas

Na avaliação da ex-atleta e medalhista de bronze nas Olimpíadas de Atlanta 1996 e Sydney 2000 pela Seleção Brasileira de Vôlei Leila Barros, a realização dos Jogos Rio 2016 foram um sucesso. Atualmente como secretária de Esporte do Distrito Federal, Leila destaca que o evento superou as expectativas. “A gente deu um tapa de luva de pelica no mundo. Ninguém sabe receber melhor do que o brasileiro, mas a gente tinha medo quanto à organização e deu tudo certo. Saber que o Brasil teve a melhor participação da sua história e ver atletas como o Caio Bonfim e outros brasilienses se destacando é motivo de orgulho para mim, tanto como ex-atleta e medalhista como na atual função que estou. É importante ver que o esporte de Brasília tem bons representantes.”

Brasília se credencia para o roteiro de grandes eventos, destaca Leila Barros. “A cidade vem numa sequência muito boa de trabalho com a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e agora a Olimpíada. Não tivemos nenhum incidente em termos de segurança, apesar de todos os indícios de ataques terroristas e manifestações. Conseguimos cuidar bem da manutenção do estádio, a logística de ter na capital do país um aeroporto a 15 minutos do Setor Hoteleiro. Pelo que apresentamos, Brasília se credencia para qualquer tipo de evento a nível mundial e isso me deixa muito feliz”, reforça.

 

Legado social

 

 (Bruno Sellani/FAC/D.A Press)
  O momento difícil na situação política e econômica do Brasil abala um pouco da autoestima das pessoas, na opinião de Leila, mas os Jogos Olímpicos serviram para mostrar a capacidade do povo brasileiro de receber e de realizar. “Se uma Copa do Mundo levou 50 anos para retornar ao Brasil, imagina uma Olimpíada. Estamos falando do maior evento esportivo do mundo, em que estiveram mais de 10mil atletas, mais de 200 nacionalidades. Um evento como esse não retorna tão cedo ao nosso país. Mais do que ginásios e hotéis, o que fica é o legado social”, acredita Leila.

“Quando penso na Leila há 30 anos, iniciando a carreira de atleta, eu me inspirei nas atletas do vôlei que jogaram a Olimpíada de Seul. Agora penso nos jovens que estão na Estrutural, na Rocinha, Cidade de Deus, aqueles que estão em um projeto social e sonham em um dia se tornarem um grande atleta e poder ver essas feras, como Usain Bolt, Michael Pheps atuando em nosso país. É um momento muito especial. Para mim, não se mensura pela grandiosidade”, diz a medalhista.

Pelo exemplo de casa, Leila Barros acredita que dá para ter uma perspectiva. “Eu tenho uma criança dentro de casa apaixonada por vôlei e futebol. Ver meu filho, com 5 anos, grudado numa televisão querendo ver tudo, serviu para eu imaginar quantas crianças estavam na mesma situação. Escolas e projetos, muita gente estimulou essa participação e a curiosidade sobre as Olimpíadas. Então o legado é muito maior do que ginásios, hotéis e pistas. È o legado social, um outro país, um novo Brasil. È a oportunidade desses jovens sonharem. Esse é o mais importante. Você vê o potencial humano que a nossa cidade tem. Brasília sempre serviu para as seleções de várias modalidades. È um potencial humano maravilhoso para o esporte.”

 

Acompanhe nossas novidades nas redes sociais:

www.facebook.com/esportecidadaniadf

www.facebook.com/fundacaoassischateaubriand

www.twitter.com/fachateaubriand

www.linkedin.com/company/fundação-assis-chateaubriand