ENTREVISTA

Cineasta diz que mercado audiovisual cresce no DF e leva chance a jovens

Em entrevista à Fundação, Marcela Tamm fala sobre oficinas de roteiro e interpretação para cinema no Centro Olímpico da Estrutural e diz que faltam profissionais na área


Camila de Magalhães -

Publicação: 31/08/2016 17:55 | Atualização: 31/08/2016 18:04

 (Marcela Tamm/Arquivo pessoal)
 Dedicada à produção de cinema e TV por 20 anos, a cineasta, produtora e professora universitária Marcela Tamm está pronta para encarar um novo desafio: ministrar oficinas de roteiro e interpretação para crianças e jovens do Centro Olímpico e Paralímpico da Estrutural nos meses de setembro e outubro de 2016. Com o apoio da Fundação Assis Chateaubriand, responsável pela gestão pedagógica da unidade esportiva, Marcela pretende ensinar técnicas usadas nas telinhas e nas telonas, mostrar possibilidades de carreira e revelar talentos que possam integrar o elenco de seu filme longa metragem, que deve sair do papel em breve.

Em entrevista à Fundação, Marcela Tamm fala sobre o mercado de trabalho na área audiovisual, conta como descobriu sua vocação, explica como serão as oficinas e fala das suas expectativas. Confira!

Qual é a realidade do mercado audiovisual hoje em Brasília?

O mercado audiovisual é o mercado que mais cresceu nos últimos tempos. Nos anos de crise, é o único mercado que continuou crescendo, mais do que nos anos anteriores. É uma indústria do futuro, limpa, verde, não polui, não degrada, e cada vez tem mais mídias para veiculação de conteúdo. O processo todo de produção de conteúdo está ficando mais democrático à medida que o tempo passa.

É tão vasto o mercado e o ambiente de produção... Tem lugar para apresentador de TV, ator, eletricista de cinema e TV, maquinista, cenotécnico, contrarregra, produtor, cozinheiro, roteirista. Cabe tudo na produção audiovisual. E as pessoas às vezes não se dão conta disso.

Cada vez mais somos autores das nossas próprias histórias. Tem muito lugar para a diversidade. É um mercado que está precisando de mão de obra em todas as suas áreas. O mercado audiovisual em Brasília está em franca ascensão. A ponto de, em muitos períodos nos últimos anos, não ter profissionais para cobrir todas as funções necessárias para fazer um filme. Produtores daqui estão chamando técnicos e artistas de outros estados porque profissionais não estão conseguindo atender demanda. Isso de 3 anos para cá. Aumentou a verba do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e empresas mais estabelecidas estão conseguindo recursos de forma mais particular, não tão ligadas ao governo. Isso vai ampliando os espaços para continuidade do trabalho.

Como foi a sua experiência de identificar no cinema e na televisão uma oportunidade de profissão?

 (CCO Public Domain - Pixabay)
  Minha mãe sempre contou histórias e sempre fui uma boa contadora de histórias. Entrei na Universidade de Brasília (UnB) para fazer biblioteconomia e peguei uma disciplina no cinema como aluna especial. Vi que era isso o que eu queria. Primeiro achei que seria na área criativa e depois descobri que o me levou era a vontade de contar histórias. Comecei como figurinista e fui descobrindo que minha vocação maior era para direção, lidar com elenco diretamente. Fui continuísta e hoje dirijo programa de televisão, dou aulas e escrevo roteiros. Hoje também estou focada no desenvolvimento de produção independente, dirigindo um documentário que tem como nome provisório Dois Antônios. Quero realizá-lo nos próximos dois anos.

De que forma as oficinas de roteiro e interpretação para cinema e TV vão trazer nossas possibilidades aos participantes da Estrutural?

Quero oferecer uma oportunidade de abrir horizontes, para que esses jovens possam conhecer profissões que parecem tão distantes, mas estão no alcance da mão. No caso do audiovisual, cabe todo mundo e o espaço está crescendo.

Lembro de um debate com o cineasta Adirley Queiroz, que atua em Ceilândia. Ele comentou que começou a fazer cinema lá e isso serviu para que várias pessoas que tinham subempregos e antes não viam perspectivas de escolher uma profissão que tivessem mais talento, pudessem ter contato com o cinema que ele fazia. Segundo Adirley, elas enxergaram outros meios de vida, que não faziam parte do espectro deles. Às vezes um jovem que tem a mãe faxineira ou o pai pedreiro não percebe que pode escolher uma profissão diferente.

Quando você mostra uma nova oportunidade, fomenta novos talentos, novas possibilidade, traz mais recursos para a diferenciação de um futuro, uma profissão, uma vida. Adirley descobriu seu talento de ator e já está fazendo quatro longas. É uma forma de pessoas que fizeram universidade e escolheram a profissão que quiseram passarem um know-how para que pessoas que não tiveram condições possam entrar nesse mercado como produtor.

O que eles vão aprender com as oficinas?

 (CCO Public Domain - Pixabay)
  Vão aprender como se organizam ideias dentro de uma narrativa para TV e cinema. A gente tem as ideias, muitos sabem contar uma história. Vou ensinar esses jovens que têm as ideias organizáveis a transcrevê-las para uma linguagem de TV e cinema. A ideia é mostrar como se transforma aquela história que você sabe contar para uma mídia especifica, para virar programa de TV ou cinema. Para essa oficina, o pré-requisito não é escrever corretamente, mas saber organizar ideias e fatos. Aí a gente passa a técnica de organização para essas duas linguagens.

Na outra oficina, faremos exercícios básicos de interpretação para todas as linguagens, dicção, controle de voz, confiança, noção de espaço, postura para TV e cinema, que se diferem um pouco do teatro. Como a profissão é muito lúdica, parece brincadeira, os jovens não vão sentir um peso de um trabalho. Tem a responsabilidade, a pressão e o estresse, mas ao mesmo tempo são muito divertidas as soluções. O uso da criatividade está presente a todo momento.

A gente aprende demais trabalhando com os jovens. Quanto mais distante for a realidade dos jovens com a realidade que você vive, mais rica a experiência. Gosto de buscar outras classes sociais, idades, nacionalidades, grupos diversos para me enriquecer e enriquecer as produções que pretendo fazer.

Como será a seleção dos participantes?

Às vezes não é muito evidente como se pode descobrir talentos. O interesse já é um bom parâmetro para essa seleção. Hoje em dia todo mundo está mais acostumado a escrever no computador do que na mão, e pode não se sair bem na seleção, mas pode ser prejudicado por isso. A ideia é abrir o máximo. Na oficina de roteiro, a seleção vai ser uma redação. Não vamos separar pela correção gramatical, mas por ver que o jovem sabe organizar as ideias.

A oficina de interpretação vai ter uma primeira seleção em cima de testes gravados em que vou escolher um trecho do roteiro para fazer uma audição, como se faz em televisão e cinema. A desenvoltura natural e a desinibição natural são os melhores parâmetros para selecionar, mais do que a apresentação física. Tudo tem que ser construído projeto a projeto, filme a filme. A boa desenvoltura oral e a capacidade de articulação também são importantes.

Às vezes é difícil se sair bem num teste, sempre um risco deixar escapar um grande talento. Harrison Ford perdeu vários testes de elenco, vários filmes, demorou para ser escolhido. No Brasil, tantos atores quase desistindo da profissão quando viraram grandes sucessos.

Quais são as expectativas de resultados?

Minha expectativa é aprender muito, formar um elenco para o meu filme e conseguir uma colaboração mútua com roteiristas no sentido de aprender a ouvir novos sotaques da juventude, descobrir assuntos em pauta e organizar assuntos para linguagem específica do audiovisual.

Tendo contato com crianças e adolescentes, vou ter a oportunidade de adaptar o vocabulário que escrevi no roteiro. A gente se atualiza estando diante do grupo. O objetivo é dar vida ao filme e aproveitar para passar a minha experiência de 20 anos trabalhando com cinema e televisão para esses jovens, um trabalho que é muito feito no Rio e em São Paulo, que dá para a gente introduzir no Distrito Federal.

O filme que estou fazendo fala sobre amizade entre um menino rico e um menino pobre. Eu precisava montar um elenco verdadeiro, de meninos ricos e pobres. A oficina de interpretação vai servir não só para eu treinar na direção de crianças e adolescentes, mas para montar um elenco real. A minha ideia é que, à medida em que for dando a oficina, descubra talentos que possam integrar o elenco do filme.

 

 

Acompanhe nossas novidades nas redes sociais:

www.facebook.com/esportecidadaniadf

www.facebook.com/fundacaoassischateaubriand

www.twitter.com/fachateaubriand

www.linkedin.com/company/fundação-assis-chateaubriand