Trabalho pioneiro na Estrutural tem esporte e cursos para jovens carentes
Mais de 600 estudantes em vulnerabilidade social são atendidos em Centro Olímpico e Paralímpico no contraturno escolar
Em meio a uma cidade que surgiu em virtude do lixão, considerado hoje o maior da América Latina, centenas de crianças e jovens da Estrutural (DF) encontram no esporte e na qualificação social uma oportunidade de transformar sua realidade, adquirir novas habilidades, além de abrir horizontes no sentido pessoal e profissional. Para quem não conhece, trata-se de uma região do Distrito Federal que ainda se encontra com infraestrutura precária. O saneamento básico ainda não chegou a todas as casas, muitas ruas não receberam asfalto, algumas áreas ainda são irregulares e têm ocupação desordenada, como a invasão Santa Luzia, que fica ao lado do Centro Olímpico e Paralímpico.
Um outro fator que preocupa são os índices de criminalidade, historicamente muito elevados. “Todas essas questões afetam o modo de vida das pessoas que lá residem. Elas precisam conviver com a violência, dificuldade de acesso a serviços básicos de saúde e educação e infraestrutura precária. Muitas famílias criam suas estratégias de sobrevivência e o isolamento é uma delas. Há círculos restritos, porque não se sabe quem é o vizinho ao lado”, observa Leandro de Carvalho, gerente-geral de Centro Olímpico e Paralímpico pela Fundação Assis Chateaubriand.
Outro dado relevante é que as famílias da Estrutural costumam ser numerosas, com média de cinco filhos. Pesquisa realizada pela equipe pedagógica da Fundação Assis Chateaubriand no início de 2016 constatou que mais de 80% dos alunos atendidos no Centro Olímpico são membros de famílias que recebem algum benefício social do governo. “Muitos contam com isso para sobreviver, não têm outras alternativas de renda. Outra realidade é que grande parte das famílias é chefiada por mulheres. Há uma ausência da figura paterna e isso reflete diretamente no comportamento dos nossos alunos. A mãe precisa trabalhar, não tem quem cuide dos filhos e não tem creche. Ela sai em busca do sustento da família e os filhos ficam em casa sozinhos”, relata Leandro.
Segundo o gerente, essa realidade impacta no comportamento dos alunos atendidos, que costumam ser muito autônomos e têm dificuldade de se submeter a normas. Em função disso, o Centro Olímpico hoje representa um espaço de acolhimento dessas crianças que não teriam outro local para ficar enquanto a mãe trabalha e eles estão fora da escola.
Experimentando vários esportes
Trata-se de um trabalho pioneiro, que não havia sido implementado em outros Centros Olímpicos e Paralímpicos. O objetivo é oferecer espaço para crianças e adolescentes da comunidade a fim de reduzir o risco de vulnerabilidade social.
“Um grande problema que se verificava na Estrutural para os alunos praticarem esportes era a alimentação. Muitos não tinham acesso à alimentação adequada e chegavam com fome e sem disposição para as aulas esportivas”, destaca Leandro. Com o sistema de combo, o aluno chega ao centro, tem uma hora de atividades esportivas, intervalo para lanche e segue com mais duas horas de atividades esportivas e cursos de qualificação social.
A garotada experimenta um conjunto de modalidades esportivas para maximizar o trabalho de desenvolvimento da psicomotricidade. “Os combos são montados para que um esporte complemente o trabalho realizado em outro. Na natação, desenvolve-se o lado cardiorrespiratório e desenvolvimento ósseo, no judô há desenvolvimento muscular, pois demanda muita força. No vôlei e basquete, trabalha-se a agilidade e desenvolvimento cognitivo, raciocínio. As atividades se somam para um melhor desenvolvimento físico e motor das crianças e jovens”, explica o gerente.
Cursos e oficinas
Resultados
O trabalho com o sistema de combo foi iniciado em abril de 2016. “Estamos em um ano de adaptação, mas já conseguimos ver resultados, como a melhora da sociabilidade, aumento da frequência às aulas e retorno dos pais, que notam mudanças positivas nos filhos. Ainda são muitos os desafios que temos a enfrentar, mas acreditamos no trabalho que fazemos. Acreditamos no esporte como ferramenta de transformação social e temos certeza de que, num médio prazo, teremos resultados muito expressivos junto à comunidade”, reforça o funcionário da Fundação Assis Chateaubriand.
O aluno Carlos Daniel dos Santos Pessoa, 14 anos, sente sua evolução após o sistema de combo. “Antes as pessoas ficavam sem almoço e agora podem lanchar aqui. A gente também pode fazer mais atividades. Eu aprendi a jogar basquete, vôlei e a nadar. É muito bom”, comenta o jovem.
Para Anália Mônica Mendes, mãe de aluna, as mudanças da filha são visíveis depois que começou a frequentar o Centro Olímpico. “Antes ela só ficava em casa assistindo televisão e era muito inibida. Depois que entrou no Centro, começou a interagir mais com outras crianças, consegue se comunicar melhor e até em casa melhorou bastante. Quando ela ficava em casa, ela ficava muito dispersa. Hoje leva para casa o que aprende, é muito gratificante”, afirma a mãe.
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