ESPORTE E CIDADANIA

Metodologia inovadora aprimora ensino de esportes em Centros Olímpicos

Projeto piloto da Fundação Assis Chateaubriand leva a prática esportiva padronizada em várias cidades do DF e promete mensurar melhor os resultados


Camila de Magalhães -

Publicação: 16/11/2016 17:00 | Atualização: 16/11/2016 17:55

Futebol de 7, futsal, atletismo, basquete, natação e vôlei são as 6 modalidades a serem trabalhadas no projeto piloto da Fundação Assis Chateaubriand (Foto: Camila de Magalhães/FAC/D.A Press)
Futebol de 7, futsal, atletismo, basquete, natação e vôlei são as 6 modalidades a serem trabalhadas no projeto piloto da Fundação Assis Chateaubriand (Foto: Camila de Magalhães/FAC/D.A Press)
 

Os quadros de medalhas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos comprovam que o investimento no esporte de base tem relação direta nos resultados e na colocação dos países em competições internacionais. Quanto mais se investe em talentos desde crianças, mais os atletas se aperfeiçoam e ganham destaque. Exemplo disso é Grã-Bretanha, que vem evoluindo nos últimos anos por ter lançado um olhar diferenciado para o esporte, focado no esporte escolar. O reflexo mais recente disso foi um terceiro lugar nas Olimpíadas e segundo lugar nas Paralimpíadas Rio 2016. “A Grã-Bretanha vem crescendo muito no esporte e o segredo está nos novos talentos que surgem desse apoio que o governo dá com relação à educação física na escola”, avalia Márcio Falcão, profissional de educação física e gerente-geral de Centro Olímpico e Paralímpico pela Fundação Assis Chateaubriand.


No Brasil, ainda é difícil encontrar esse tipo de apoio. Com exceção dos clubes, que oferecem esse suporte principalmente no futebol, nas outras modalidades é difícil ocorrer um investimento. “Nas escolas, que seriam um nicho perfeito para se trabalhar o esporte de base, hoje a gente não consegue. Não existe um sistema de educação física com política séria de acompanhamento, com avaliação sistemática que vai mapear o crescimento do aluno na modalidade”, destaca Márcio.

 

Foi de olho nisso que a Fundação Assis Chateaubriand reuniu alguns de seus profissionais de educação física e decidiu criar, de forma coletiva, uma metodologia inovadora para padronizar e avaliar o ensino esportivo nos sete Centros Olímpicos e Paralímpicos do Distrito Federal onde a entidade é responsável pela gestão pedagógica, em parceria com a Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal. Nos próximos anos, cerca de 7,5mil alunos de 9 a 17 anos matriculados nas unidades de Ceilândia (Parque da Vaquejada e Setor O), Estrutural, Riacho Fundo I, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho terão um ganho enorme em qualidade e eficiência.

 

Trabalho pioneiro

 

Márcio Falcão: 'O objetivo é fazer com que os alunos evoluam na modalidade, respeitando sua individualidade. Mas é claro que a probabilidade de se encontrar talentos é muito grande' (Camila de Magalhães/FAC/D.A Press)
Márcio Falcão: "O objetivo é fazer com que os alunos evoluam na modalidade, respeitando sua individualidade. Mas é claro que a probabilidade de se encontrar talentos é muito grande"

 

 

O projeto piloto começa com foco nas seis modalidades esportivas mais populares dos Centros Olímpicos e Paralímpicos: atletismo, basquete, natação, vôlei, futebol de 7 (futebol society) e futsal. “Surgiu a necessidade de construirmos um método de ensino esportivo para avaliar a melhoria dos alunos no esporte e direcionar esse ensino do esporte, fazendo com que professores tenham mais facilidade de aplicar a sua modalidade nos centros. Por meio da nova metodologia, os professores terão condições de traçar um plano de desenvolvimento esportivo para cada ano. E nesse plano, farão avaliações periódicas para analisar a evolução dos alunos na modalidade”, explica Márcio Falcão, ao ressaltar que se trata de um trabalho pioneiro no Distrito Federal.De acordo com ele, se falarmos em trabalho com parceria público-privada, é pioneiro no Brasil.

 

A primeira experiência começou em outubro, com o futebol, e a aplicação no vôlei teve início em novembro. Até dezembro, os demais esportes também estarão em ação. A ideia é não interferir em como ministrar as aulas. Os professores terão liberdade de trabalhar os conteúdos definidos na metodologia da forma como entende como melhor. A Fundação Assis Chateaubriand vai utilizar essa experiência para analisar as melhores práticas dos centros que atende, por meio da avaliação dos resultados. Ao final de quatro bimestres, será realizado um congresso com participação de todos os professores que utilizam a metodologia, para identificar as percepções com relação ao conteúdo e avaliações, para então implementar, acrescentar ou modificar o conteúdo para o próximo ciclo. Com a experiência do congresso, será possível ampliar a metodologia para outras modalidades esportivas.

 

Respeito às individualidades

 

Segundo Márcio Falcão, o objetivo principal da metodologia não é transformar ninguém em campeão. “O objetivo é fazer com que os alunos evoluam na modalidade, respeitando sua individualidade, seu objetivo, seu gosto pelo esporte e melhoria nos fundamentos. Mas é claro que, fazendo um trabalho desse, a probabilidade de se encontrar talentos é muito grande. Você está avaliando, acompanhando com processo de ensino sistematizado. A chance de se identificar destaques é muito maior do que como vinha acontecendo, com esporte subjetivo. Com a metodologia, podemos provar que se trata de um talento a partir da documentação da evolução dele, domínio dos fundamentos, técnica. Isso nos auxilia a direcionar alunos para o programa Futuro Campeão, por exemplo”, observa o gerente.

 

Para Márcio Falcão, os Centros Olímpicos serão uma base de talentos no futuro, vão virar uma referência no esporte: “Os clubes virão buscar esses talentos. Mas, de maneira alguma, será um programa excludente. As avaliações não vão servir para reprovar o aluno, mas sim para acompanhá-lo e o professor poder fazer uma intervenção mais específica. Se aquele aluno não é tão bom em fundamentos e os outros são, vou trabalhar melhor isso com ele, já que o restante ele já tem domínio. Isso dá uma evolução mais assertiva do aluno. Estimula muito o aluno, mostrar a ele onde pode melhorar. Hoje a gente não tem isso, a evolução acontece subjetivamente, acontece em um ponto e não em outro. Queremos proporcionar essa igualdade para os Centros Olímpicos. Saber porque aquele grupo está evoluindo e poder compartilhar com os outros. Compartilhar o conhecimento de maneira sistematizada. Quem vai ganhar com essa metodologia são os alunos dos Centros Olímpicos. A evolução que queremos buscar é a de cada aluno, independemente da formação motora, da experiência esportiva. A gente quer que ele evolua. Isso é muito importante. Os resultados virão a médio e longo prazo. É uma construção contínua, porque o esporte evolui muito. A gente está educando o aluno para, quando ele se tornar um adulto, ter autonomia e gostar de fazer exercício físico, não se tornar uma pessoa sedentária ou obesa.”

 

A visão dos professores

 

Os professores das modalidades participantes estão animados. Um dos 20 profissionais que participaram da construção da metodologia foi Wander Lira dos Santos, professor de futsal no Centro Olímpico e Paralímpico de Samambaia. “As perspectivas são ótimas. A sistematização do ensino vai ser muito útil para os alunos, para o aprendizado, para dar continuidade e feedback melhor para os pais, teremos um banco de dados que poderemos apresentar, com a avaliação do aluno. Se um aluno entra hoje, como vai estar daqui a alguns meses? Isso é importante”, destaca.

 

Para Alexandre Alves de França, professor na unidade da Estrutural, a aplicação da metodologia pode até ampliar o número de alunos nas aulas. “Eles perceberam que estão sendo avaliados vai contribuir muito”, acredita. Já Francisco Nascimento, professor na unidade do Setor O, afirma que a novidade torna o processo esportivo contínuo, mesmo com fases diferentes. “Foi bem pensado, no momento certo. Falando por mim, que tenho uma quantidade de alunos há um bom tempo, vai ser tranquila a aplicação do método e a adaptação dos alunos. Sinto falta de ter uma continuidade, se tenho um aluno avançado e outro que não consegue chegar, vou ter um trabalho melhor para esse menos avançado. Por isso, a importância da metodologia”.

 

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