ENTREVISTA

Brasília tem potencial para o empreendedorismo, diz Deise Nicoletto

Jovem empresária aposta na cidade para fortalecer comunidade empreendedora e cita características, principais erros do empreendedor e soluções


Camila de Magalhães -

Publicação: 28/12/2016 19:55 | Atualização: 29/12/2016 16:14

 (Pixabay)

 

Formada em economia e especializada em administração estratégica, Deise Nicoletto já teve uma start-up e trabalhou em várias multinacionais em São Paulo. Voltou para a capital do Brasil e hoje é líder da iniciativa Impact Hub Brasília, uma rede global de pessoas que empreendem novos negócios sociais. A iniciativa está presente em mais de 90 cidades em 40 países. Organizadora dos eventos Fuckup nights Brasília, que reúnem empresários, estudantes e empreendedores de coração para ouvir histórias de fracasso nos negócios, Deise aposta no Distrito Federal para apoiar novas ideias.


Em entrevista à Fundação Assis Chateaubriand, Deise fala um pouco sobre a sua proposta, avalia o cenário empreendedor da cidade e dá dicas de como ter sucesso com o empreendedorismo. Confira:

 

Por que você escolheu Brasília para investir?

 

Estamos vindo para Brasília para desenvolver uma comunidade empreendedora e de impacto aqui. Um trabalho que a gente vem fazendo há um tempo é entender a comunidade. A rede é um ambiente muito customizado, que vem atender os aspectos que a comunidade precisa para potencializar os impactos com foco no empreendedorismo e buscar construir um mundo melhor.

 

Com o Fuckup Nights Brasília, a gente começa a trazer essas pessoas para ver quem tem interesse na pegada de empreendedorismo. É um evento em que as pessoas vêm falar sobre o fracasso que tiveram ao empreender e, principalmente, o que aprenderam.

 

A gente quer despertar outros significados e ressignificar o que é errar, para as pessoas entenderem que isso já ajuda no desenvolvimento da cultura empreendedora. Quando você é empreendedor, não vai acertar toda hora. Vai passar por várias etapas e não tem certo e errado. Errar é normal. As pessoas que participam são pessoas bem-sucedidas, mas passaram por algum fracasso e vão contar isso.

 

Normalmente, não existe um ambiente agradável para as pessoas falarem de falhas. Todo lugar que você vai não pode errar. Mas errar é normal, não tem certo e errado. É isso que queremos trabalhar, mostrar que errar e acertar estão no mesmo nível e a vida segue. Você não vai ser melhor ou pior por isso.

 

Como é o cenário do empreendedorismo no DF?

 

Saiu recentemente uma pesquisa que aponta Brasília no 16º lugar de capital de empreendedorismo. Aqui, basicamente as pessoas trabalham em serviço público, cerca de 25% da população está em serviço público. Muitas pessoas não veem bem uma cultura de empreendedorismo na cidade.

 

Hoje vejo que está mudando, há um movimento muito grande pela mudança. Vejo universitários que não querem fazer concurso. Estão surgindo muitos eventos e espaços para conectar pessoas. Acho que a globalização e a tecnologia fazem com que as coisas cheguem muito rápido, você não depende mais de estar num lugar físico. Hoje você pode estar aqui e se conectar com o mundo. Esse trabalho em rede é fabuloso. Trabalho com pessoas em Berlim, Londres.

 

 (Bruno Sellani/FAC/D.A Press)
Existe um esforço muito maior para desenvolver o empreendedorismo em Brasília, pelo modelo como a cidade foi construída, a funcionalidade da cidade. Vejo que as pessoas querem buscar alternativas. A crise faz as pessoas repensarem o significado, o que elas querem da vida, vem uma geração completamente diferente. Vejo muitas empresas júnior super legais surgindo nas universidades.

 

Acho que é o momento certo de vir o hub. A fagulha começou e vamos colocar lenha para a fogueira começar a ferver mais ainda. Brasília é muito nova, isso é muito vantajoso. Tudo o que você trouxer é muito bom e vai ajudar a direcionar o que a gente entende. Brasília tem vocações para o turismo, criatividade. Eu vejo pessoas muito criativas, que se desenvolvem, mas chega num nível que não conseguem ir para frente porque não têm exemplos de empreendedorismo.

 

A gente quer ajudar nisso, falar que a ideia é maravilhosa, pode seguir em frente e mostrar que tem que ter resiliência, não é fácil achar investidor, tem que ter um planejamento. Muitos erros envolvem planejamento, falta de estratégia de gestão. A gente quer levar ferramentas.

 

Quais são as principais características do empreendedor?

 

O que move o empreendedor é a paixão em fazer. Todo mundo quer ganhar dinheiro, mas ele acredita tanto no que quer que vai fazer de tudo. O principal é a paixão em fazer, acreditar muito naquilo. Também tem que ter muita resiliência para enfrentar várias situações. É uma galera muito otimista, olha por outro ângulo e vai transformando.

 

Que erros são mais comuns nos negócios?

 

Os principais são sócios e falta de gestão. Todo mundo tem problema com sócios. Começa a existir uma divergência do que querem. Outra questão é falta de gestão. As pessoas acham que empreender é fácil, mas precisam de uma visão do todo no negócio. As pessoas deixam muito a parte financeira de lado. Isso pega muito.

 

O que se pode fazer para melhorar isso?

 

Tenho discutido muito essa questão de governança. As pessoas precisam definir atividades e regras para cada um. Muitas têm medo de ter uma conversa anterior, medo de machucar, ficam adiando conversa. Estar bem desenhado até onde cada um atua é o principal. Muita gente se associa com namorado, marido. Há muitos casos que não dão certo. Precisa ter esse cuidado porque envolve muito os negócios e depois acabam se separando.

 

Quanto à gestão, se a pessoa não tem habililidade, já que nem todo mundo gosta, deve chamar alguém para ajudar. É uma coisa necessária. O empreendedor tem a paixão em fazer, ele vai saber fazer aquilo. Só que um negócio tem toda a parte chata, burocrática. Eu não sei mexer em processo de abrir empresa, precisei de um contador. Foi a primeira coisa que fiz.

 

Você não precisa saber de tudo, mas ter quem saiba do que você precisa. Se muna de pessoas boas em sua volta, que saibam daquilo que você precisa. É até válido fazer curso, mas você vai fazer algo que não gosta, vai se dedicar a algo que não tem prazer? Desapega, vai fazer o que gosta e arruma gente para resolver as outras coisas para você.

 

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