PALAVRA DA FUNDAÇÃO

Artigo - Coragem para abandonar velhos padrões

Estar aberto às diversidades é um passo importante para a evolução humana e a construção de um mundo melhor. É o que destaca o artigo do analista de projetos Felipe Freitas, da Fundação Assis Chateaubriand


Publicação: 28/04/2015 19:00 | Atualização: 29/04/2015 10:24

Por Felipe Freitas

Tradições existem e são importantes para construir o sentimento de coesão em uma sociedade. As tradições podem estar restritas a uma pequena comunidade ou abranger uma região geográfica mais ampla. Também unem pessoas de uma mesma religião ou visão mística de mundo. Há as tradições comuns aos habitantes de um país ou as que identificam um dualismo mais expressivo, como nas culturas ocidental e oriental.

Porém, dentro da ilimitada capacidade criativa humana e graças à individualidade que todos carregamos, sempre é possível abandonar os modelos que não fazem mais sentido no mundo. Esse rompimento é necessário porque deixa para trás concepções ultrapassadas e dá espaço às inovações.

E é por essa característica evolutiva, baseada na inquietação e na busca por melhores condições de vida, que hoje podemos usufruir uma infinidade de soluções que proporcionam – de forma ampla, mas ainda muito restrita – conforto, longevidade, qualidade de vida e razoável convivência pacífica.

 

'Todos temos a capacidade de pensar, interrogar, refletir e assumir uma posição que pode causar desconforto social, mas que traz consigo a semente da mudança', afirma Felipe Freitas (Designed by Freepik)
'Todos temos a capacidade de pensar, interrogar, refletir e assumir uma posição que pode causar desconforto social, mas que traz consigo a semente da mudança', afirma Felipe Freitas

 

Nem todos têm a intuição, perspicácia e coragem necessárias para quebrar com um padrão estabelecido, pois quem pensa e age diferente sente o peso do isolamento, da incompreensão e das críticas. Como animais sociais, tendemos a evitar essa situação. Há vários exemplos históricos de pessoas que desafiaram o Estado, a Igreja, a Academia e a própria família ao renunciar os conceitos vigentes e apresentar caminhos que levaram a grandes conquistas.

Sócrates, Buda, Jesus, Galileu, Einstein, entre tantos outros e outras, tiveram de enfrentar muitas resistências para viver de forma plena suas convicções. Foram revolucionários em suas ideias e, mais importante ainda, em suas atitudes. A maioria de nós não é nem será como esses ícones da filosofia, da religião ou da ciência. No entanto, todos temos a capacidade de pensar, interrogar, refletir e, eventualmente, assumir uma posição que, a princípio, pode causar desconforto social, mas que traz consigo a semente da mudança.

Espiral do silêncio

No início do século 20, a filósofa e política alemã Elisabeth Noelle-Neumann formulou a teoria conhecida como Espiral do Silêncio. Essencialmente, essa teoria trata sobre o conceito de opinião pública nas sociedades midiatizadas e suas consequências. Ela defende que as pessoas tendem a não afirmar ou exercer suas crenças quando desconfiam que a maioria tem uma opinião diversa e contrária. E essa maioria, talvez, nem exista, apenas faça parte do que uma estrutura social, interessada em manter o status quo, quer que acreditemos existir.

É preciso não reproduzir o que uma maioria imaginária faz ou diz. É fundamental não se juntar ao coro dos violentos, dos esbanjadores, dos sexistas, dos homofóbicos, dos fanáticos religiosos, dos que negam os direitos alheios. Não é porque sempre foi assim que assim sempre deverá ser. Ter fé na Humanidade é acreditar que esses grupos que impedem o caminho do verdadeiro progresso diminuirão até perderem expressão a partir do dia em que cada pessoa der ouvidos ao que de mais humano guarda no coração.

Uma frase atribuída a Gandhi convoca a todos os insatisfeitos que sejam eles próprios a mudança que querem no mundo. Significa agir sem esperar que alguém nos empurre a essa ou àquela direção ou aguardar ventos favoráveis. Que sejamos seres plenos de coragem, vontade e ação.

 

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