Velocista Ariosvaldo Fernandes fala sobre atletismo em cadeira de rodas
Às vésperas dos Jogos Parapan-americanos, um dos atletas mais velozes das Américas fala sobre o dia a dia com o esporte em Ceilândia
A gente passou a treinar para tentar o Parapan-americano. Foquei por dois anos para o Parapan 2007. E veio o resultado: fui campeão nos 100m e 400m e consegui a prata nos 200m. Com os títulos, decidimos tentar as Paralimpíadas. Consegui ir para Londres em 2008, cheguei à final nos 100m e fiquei em oitavo lugar. Meu treinador disse que, com mais trabalho, conseguiria chegar mais à frente. Treinei mais e fui bicampeão pan-americano e quebrei o recorde nos 100m e 200m em Guadalajara 2011. Agora estou chegando ao meu terceiro Parapan e vou tentar ser tricampeão.
Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou?
Quando comecei a levar mais a sério o esporte, no Rio 2007, eu tinha dificuldade de locomoção e estava quase sem nenhum apoio financeiro. Até dois anos atrás, trabalhava em uma oficina de manutenção e fabricação de cadeira de rodas em Ceilândia. Hoje me dedico exclusivamente ao esporte. Tenho as bolsas do governo federal que me ajudam bastante e consigo custear minha vida, morar mais perto do treino. Passei a receber a Bolsa Pódio por conta de ser campeão pan-americano e medalha de bronze no último Mundial. Mas há atletas que sofrem muito, pois não estão nesse nível. Na base, o apoio costuma ser difícil. No início, eu não tinha um material legal. Hoje, se você não tiver 4 mil dólares, não consegue comprar esse tipo de cadeira com que eu treino.
Qual é a importância do Centro Olímpico e Paralímpico nos seus treinos?
Tenho um apoio muito bom da equipe, tanto do Dênis Gigante do Cetefe quanto do professor Heeyhashy da Fundação Assis Chateaubriand. Graças a Deus, temos uma pista boa em Ceilândia, oferecida pela Secretaria do Esporte e Lazer do DF. Muitos estados não têm uma pista como essa. Todos os meus títulos mais recentes saíram lá de dentro. Recebo tudo o que preciso, os técnicos conseguem adaptar o trabalho para mim. É muito bacana.
Como se sente em ser reconhecido pelo seu esforço?
É muito legal esse reconhecimento. Meus amigos, o pessoal do comércio, os colegas do Centro Olímpico e Paralímpico e várias outras pessoas me dão força e ficam na torcida. Tento lutar para dar esse orgulho para o pessoal da cidade, isso me motiva a fazer o melhor. O pessoal faz a maior festa, estão na expectativa para o Parapan.
Que mensagem sobre o esporte você deixa a outras pessoas com deficiência?
Aconselho a ter muita vontade para praticar esportes paralímpicos. É uma porta muito boa, com opções de várias modalidades. Sugiro procurar um clube e se encaixar numa modalidade. Comecei no basquete e hoje tenho uma carreira bacana no atletismo em cadeira de rodas. Tudo o que tenho hoje foi o esporte que me deu.
Não devemos parar de pensar que somos uns coitados por estarmos em cadeira de rodas. É muito melhor procurar um esporte e tentar fazer. Como deu certo para mim, pode dar para outras pessoas. Mas tem que lutar, ser guerreiro. Quando você consegue ser bem sucedido, é reconhecido pelo esporte que faz. Hoje sou reconhecido por ser um velocista, por me destacar no esporte e não, por ser uma pessoa com deficiência.
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